Arquivo da categoria: Opinião

Condecorações – Pimenta em sintonia com Emanuel Silva

Mal aterrou em Portugal [de regresso do estágio na Flórida], Pimenta teve conhecimento das declarações de Emanuel Silva quanto ao facto de a canoagem ainda não ter sido condecorada pela Presidência da República. “Este ano fizemos história com o título de vice-campeões do Mundo em K4. Somos uma das modalidades mais medalhadas. Fico triste por nunca ter sido reconhecida, mas orgulhoso pelos resultados obtidos.”

Jornal Record, 01/12/2014

“Atletas sentem-se injustiçados.” Critérios de condecorações deveriam ser divulgados

O desabafo de Emanuel Silva quanto ao facto de a canoagem nunca ter sido agraciada pelo Presidente da República tornou-se viral nas redes sociais, com muitos comentários em apoio ao canoísta. Ora este assunto parece estar longe de terminado, pelo menos para a canoagem. E agora é próprio presidente da FPC a falar sobre o assunto. “Compreendo que os meus atletas se sintam injustiçados e tenham estes desabafos”, frisou Vítor Félix. “Afinal, estamos a falar de vice-campeões olímpicos e do Mundo e que em momento algum foram condecorados. Não estou com isto a tirar mérito ao ténis de mesa [seleção é hoje agraciada por Cavaco Silva], que tem feito um grande trabalho, mas estou a lembrar que existem outras modalidades a trabalhar também muito bem.”

O presidente da FPC recorda que este ano a canoagem trouxe para Portugal “18 medalhas”, um hábito nem sempre valorizado. “O que às vezes sinto é que os nossos resultados são banalizados, ou seja, quando a canoagem ganha uma medalha não é destacado. Mas prefiro ganhar muitas vezes do que de vez em quando.”

E para colocar um ponto final na polémica, Vítor Félix deixa um conselho ao atual e futuros presidentes da República. “Os critérios quanto às condecorações deviam ser divulgados, não com o intuito de os atletas lutarem por isso, mas para haver um reconhecimento igual e justo em todas as modalidades.”

Jornal Record, 01/12/2014

“Medalhas e títulos não são suficientes?” Emanuel Silva questiona Cavaco Silva

A dois dias da homenagem à Seleção Nacional de ténis de mesa, Emanuel Silva questiona o Presidente da República quanto aos critérios para agraciar este ou aquele atleta. E sem colocar em causa o mérito de Marcos Freitas e companheiros – “parabéns aos ténis de mesa”, diz –, o canoísta do Sporting diz que a modalidade não tem tido o reconhecimento das mais altas instâncias do Estado português.

“Nos Jogos Olímpicos de Londres’2012 fui um dos protagonistas da conquista da única medalha portuguesa, em equipa com o Fernando Pimenta, e não tivemos nenhuma homenagem pelos mais altos magistrados da nação. Em 2013, com João Ribeiro, conquistámos o título mundial em K2 500 e em 2014 o título de campeões da Europa. Ainda este ano, obtivemos o bronze no Europeu em K4 1.000 e a prata no Mundial, um feito único na história da canoagem portuguesa.” Por tudo isto, Emanuel Silva questiona: “Não somos todos portugueses? As medalhas e títulos que conquistámos não são suficientes para sermos homenageados pelo nosso Presidente da República? Ou só o que é praticado com bola é que conta?”

A Seleção Nacional de ténis de mesa, campeã da Europa, recebe amanhã a Ordem Infante D. Henrique, a mesma que já havia sido entregue a Cristiano Ronaldo. O futebol, de resto, tem dominado as homenagens de Cavaco Silva.

Ruben Faria desiludido com ausência em almoço

Os atletas portugueses deixaram de estar acomodados às situações e são já frequentes os reparos e críticas, seja a quem for. E como vemos nesta página, nem as mais altas figuras do Estado escapam. Se Emanuel Silva faz agora reparos a Cavaco Silva, no ano passado foi Ruben Faria a tecer comentários semelhantes, mas então dirigidos ao primeiro-ministro, Passos Coelho.

Tudo porque o motard ficou fora da lista de 12 atletas portugueses que foram convidados para almoçar com o chefe do Governo. Isto, num ano em que Faria fez história, ao conseguir o segundo lugar no Dakar. “Tenho isto preso na minha garganta e tenho que o dizer. O primeiro-ministro fez um almoço com atletas que obtiveram sucessos para Portugal e esqueceu-se de mim. Não entendi. Em janeiro, todos se lembram de mim e agora nem por isso. Acho que todos sabem como é difícil terminar um Dakar na segunda posição, desabafou o piloto. “Não estou chateado, estou apenas triste.”

Jornal Record, Ana Paula Marques, 30/11/2014 – link

Foto Bruno Pires

Pedido de documentos à #ICF: Falha na Igualdade de Oportunidades, Universalidade e Boa Gestão #PlanetCanoe

Original WomenCan International

Na nossa publicação de 17/11 apresentámos dados que reflectem o domínio dos homens na Federação Internacional de Canoagem (ICF). Os dados mostram que quase todos os seus elementos são homens e que os Comités Executivos e os seus membros são todos homens. Mostram também que a Europa tem 87% das posições nos Comités Executivos e 52% das posições nas Comissões quando os europeus constituem apenas 25% entre todas as Federações Internacionais.

Ao questionarmos porque se mantém esta negligência grosseira na igualdade de género e universalidade, temos de ter estes dados em consideração. Apesar disso, ao longo dos anos, temos sido melhor representadas por vários homens em posições chave do que pela própria Comissão das Mulheres da ICF.

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DESLEIXO NA IGUALDADE DE GÉNERO E NA TRANSPARÊNCIA

A ICF organizou o seu Congresso anual em Varsóvia, Polónia mas pouca informação veio a público. Foram votadas alterações importantes e anunciadas alterações às regras para 2015 e aos programas dos Mundiais que afectam as Canoas Femininas. A única informação que veio a público foram os tweets da CanoeKayak Canada (CKC). Fizemos um pedido de esclarecimentos à ICF mas até agora não obtivemos resposta.unnamed

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PEDIDO

Solicitámos um comunicado de imprensa público, à ICF, com as seguintes informações:

  1. Lista de todas as moções (propostas) submetidas à ICF, por Federação Nacional e/ou trabalhadas pela ICF antes do Congresso de 2014. Cada moção deve incluir a justificação para a propostas de alteração. Esta lista deve incluir as moções aprovadas e as reprovadas e a justificação para a desaprovação;
  2. A lista de votos completa dos participantes no Congresso da ICF 2014 (nomes e Federação a que pertencem. Estiveram 248 participantes);
  3. Uma explicação sobre a forma de escolha e nomeação dos membros da ICF e de como as posições dos representantes dos Continentes são escolhidas e distribuídas;
  4. Informação detalhada sobre o Projecto de Boa Gestão da ICF;
  5. Um relatório ou resposta da Comissão de Mulheres da ICF com a sua posição/opinião sobre o actual estado das coisas (ex: falta de igualdade de oportunidades para as atletas femininas e para as mulheres no acesso a lugares de decisão e administração) e a sua estratégia para o desenvolvimento das mulheres no desporto, igualando o programa Olímpico e o aumento do número de mulheres nas posições de decisão;
  6. Reconsideração por parte da ICF sobre o programa das Canoas Mulheres para 2015.
    • A ICF deve incluir pelo menos 4 provas em todas as Competições Internacionais de 2015.
    • Para além do desnecessário adiamento do programa Olímpico para “talvez” 2020, manter adiada a implementação de um programa de provas igualitário em eventos Mundiais é uma violação dos direitos humanos à luz dos Princípios Olímpicos e da própria política da ICF para a Igualdade de Género. Esta repressão leva a que as Federações Nacionais também limitem ou impeçam o acesso e a igualdade de oportunidades das mulheres e raparigas.
    • De acordo com os dados da própria ICF há, aproximadamente, 50 países com mulheres e raparigas a competir e/ou a desenvolver a canoa velocidade ou slalom.
    • Nas competições mundiais de 2014 em velocidade e slalom, os níveis de participação chegaram aos 29 países de 5 continentes. No entanto, devido à falta de Estatuto Olímpico, muitas Federações Nacionais continuam a não levar a sério a igualdade de género, não desenvolvendo e não levando as Canoas Mulheres às grandes competições internacionais da ICF e muitas continuam a não organizar provas de nível nacional. Apenas a C1 200 metros não é suficiente para a comunidade de mulheres e raparigas que estão a competir/desenvolver as canoas e QUEREM competir em canoas.

CANOAS MULHERES 2015 E MAIS ALÉM

De acordo com os tweets da CKC durante o Congresso da ICF (7 de Novembro de 2014) o programa Mundial para 2015 será assim:

  1. Campeonato de Mundo de Velocidade de JUN/Sub-23
  • 2014: 2 provas: C1 200, C2 500
  • 2015: Programa aprovado: C1 200, Retirada a C2 500 e adicionado C1 500 e C2 200
  1. Campeonato do Mundo de Velocidade Absoluto – SEM ALTERAÇÕES
  • 2014: 2 provas C1 200, C2 500
  1. Campeonato do Mundo de Maratona Absoluto e de JUN/Sub-23
  • 2014: Sem provas de Canoas Mulheres
  • 2015: Adicionados C1 Mulheres Absolutos e JUN

PERGUNTAS

  1. Porque não há alterações ao programa dos Mundiais de Absolutos se, em simultâneo, há uma proposta de incluir as Canoas Mulheres nos Jogos Olímpicos de 2020?
  • As Mulheres esperavam e estão prontas para um mínimo de 5 provas para 2015 a todos os níveis: C1 200, C1 500, C2 200, C2 500 e C1 5000.
  • Se as mulheres podem fazer a Maratona porque não podem fazer a distância mais longa do Campeonato do Mundo de Velocidade?
  1. Porque foi retirada a C2 500 metros do programa dos JUN/Sub-23 se se mantém no programa Absoluto?

(E já agora, ICF: deixem de anunciar que as Canoas Mulheres “vão estar” nos Jogos Olímpicos de 2020. O COI é o único organismo com autoridade para anunciar isso e as decisões para 2020 vão ser feitas nos dias 8-9 de Dezembro de 2014. Os líderes da ICF começaram com estas afirmações em Maio de 2014 e deram indicações à comunicação social para fazerem o mesmo, causando litígios desnecessários na comunidade da canoagem.) unnamed (1)

CONTINUADA FALTA DE TRANSPARÊNCIA E CONFIANÇA

A transparência é um elemento chave na Boa Gestão, assim como a responsabilidade, profissionalismo e integridade – e tudo junto gera confiança. A falta de transparência da ICF e a informação que fizeram passar às pessoas que são mais afectadas pelas suas decisões – os atletas – e a sua contínua desinformação ao público e ao COI, deixaram os seus membros a fazer muitas perguntas sobre o futuro da canoagem no Programa Olímpico. Continua a causar desconfiança o compromisso assumido pela ICF para a Igualdade de Género e Universalidade, de acordo com a Carta Olímpica e com a Política de Igualdade da ICF e até mesmo o compromisso para com a Canoa Canadiana como disciplina com legado Olímpico.

O comportamento e decisões da ICF bem como das Federações Nacionais para com as comunidades locais/regionais de canoagem.

A ICF não definiu uma estratégia clara, compreensível e viável sobre o caminho a seguir pelas Mulheres na nossa modalidade e para a Canoa Canadiana.

CONCLUSÃO

Em conclusão, a ICF e as Federações Nacionais dizem estar preocupadas com os baixos níveis de participação na Canoa Canadiana, em geral, e com as Mulheres na Canoa em particular. Apesar de ser importante alterar o peso e o desenvolvimento de novas tecnologias, isso não é suficiente. Olhemos apenas para as próprias decisões da ICF sobre o contínuo adiamento de igualdade para as mulheres, nos seus programas (provas e distâncias de competição) e a sua decisão de nunca incluir a C4 nos Jogos Olímpicos desde 1936 a par do K4 que actualmente existe no programa para homens e mulheres. A prova de canoa de 4 pessoas a moverem de forma poderosa os braços, ancas e as pernas em uníssono é espectacular de ver.

Menos oportunidades aos atletas = menos incentivo para o investimento

A riqueza e a economia dos países, sofre, quando a metade da sua população, é limitado ou impedido a igualdade de acesso às oportunidades. No desporto é igual.

A pagar? – A opinião de Mário Santos

Jornal A BOLA – 14/11/2014 – Sem link

São recorrentes as polémicas relacionadas com as participações nacionais desportivas custeadas pelos atletas. Reclama-se que o Estado deveria assegurar tais participações.

Enquanto Presidente de uma Federação, com limitados recursos financeiros como a canoagem, vivi na primeira pessoa este problema. A canoagem é composta por diversas disciplinas, duas das quais Olímpicas e seis com calendário competitivo internacional, sendo de todo impossível participar em todos os eventos com a totalidade dos atletas nacionais com nível. Foi necessário proceder a uma seleção da seleção, estreitando a malha, e condicionando a participação unicamente dos atletas com possibilidade de atingir uma final (9 primeiros) nas disciplinas olímpicas e uma medalha nas não olímpicas. Coloca-se então a questão de expandir a possibilidade de competirem mais atletas, desde que garantido um mínimo de qualidade competitiva. Parece-me razoável que se o faça, não se coarta assim a possibilidade do atleta competir aos mais alto nível numa competição para a qual está preparado.

No entanto quem conhece com alguma profundidade o financiamento público às seleções nacionais, sabe que no passado nunca houve uma relação de causalidade entre o sucesso e o financiamento. Portugal compete no mundo e com todo o mundo que gradativamente investe mais no desporto de rendimento. Como consequência desse investimento temos cada vez mais Países com altos níveis performativos, esbatendo-se as diferenças. Se aspiramos ter competitividade externa, é necessário definir estratégias e uma utilização mais eficiente dos recursos disponíveis.

Esperemos que os critérios de financiamento e os planos federativos para o alto rendimento em 2015 sejam claros, assim como a avaliação dos anteriores programas de cada modalidade. Desta forma todos os atletas, treinadores, dirigentes e seguidores das mais diversas modalidades saberão (concordando ou não) a razão de uns terem que pagar e outros não.

Mário SantosPresidente FPC 2004-2013 e chefe de missão JO Londres’2012

Adam Van Koeverden: “O importante é estar limpo”

Original The Globe and Mail, 07/11/2014

Não sou fá de Alex Rodriguez [banido do baseball por 211 jogos]. Não sigo o baseball. Não sou especialista em substâncias dopantes usadas [performance enhancing drug  – PEDs]no desporto profissional ou amador.

O que me leva a desabafar é a coluna do The Globe and Mail de quinta-feira. Quando o colunista do Globe-Desporto tweetou: “O Alex Rodriguez usou drogas. Eu também usaria. E tu também.” Eu tweetei que não me revejo nessa categoria mas antes disso li o artigo. Esperava encontrar alguma sátira ou ironia ou que o Kelly admitisse que estava a ser faccioso.

Não encontrei nada disso. O que encontrei foi uma vã tentativa de justificar o uso de substâncias dopantes [PEDs] no desporto.

O Kelly afirma que gostaria de ouvir a opinião de pessoas que tenham sido confrontadas com a decisão de tomar PEDs no desporto.

Nunca pensei tomar drogas para melhorar a minha performance. Nem uma única vez. Suponho que seja uma escolha mas nem uma só vez ponderei essa hipótese, apesar de estar a treinar para os meus quartos Jogos Olímpicos, ter 32 anos de idade, e a aproximar-me do final da minha carreira de canoísta – como o Kelly descreveu a fase em que Rodriguez optou por escolher o lado negro.

O que mexeu logo comigo foi o Kelly assumir que os atletas, em primeiro lugar, são artistas. Nós somos pessoas e competidores e algumas pessoas acham que isso é um “espectáculo”. Não fazemos parte de uma coreografia ou de um pacote de diversão. É absurdo utilizar o argumento de que se justifica o uso de PEDs para incrementar o valor desse “espectáculo” e é o mesmo argumento perigoso de que os atletas “macaquinhos” devem ser usados para a satisfação dos espectadores e para subir audiências em horário nobre. Acho que isto se aplica ao desporto profissional e amador e é uma linha que se tem tornado cada vez mais ténue.

O Kelly faz uma grave suposição de que a maioria dos atletas profissionais já tomou PEDs. Esta suposição é feita com base na sua admissão de que, caso ele estivesse numa posição semelhante, utilizaria drogas para se manter no topo e continuar a colher os frutos de um contrato-milionário como profissional.

Ele compara a decisão de tomar PEDs com o dizer de uma mentira, tomar um atalho ou “um compromisso que fazemos para facilitar o caminho.”

Se alguém faz batota, só põe em causa uma coisa: a sua integridade. Clarificando, estamos a falar de desonestidade crónica quando se fala em batota. Usar drogas para aumentar a nossa performance não é uma mentirinha. É uma afronta aos pilares sobre os quais o desporto assenta.

Não estamos a falar de um código do Tetris para fazer as peças caírem mais devagar. Isto não é um programa de televisão. Isto é a vida de um atleta e sua razão de existir. É uma inspiração para as crianças e para os fãs desportivos de todo o mundo. Os batoteiros não roubam apenas o momento, a glória, as medalhas e o dinheiro, eles roubam os corações e a admiração de milhões de pessoas daqueles que mais o merecem.

A decisão de fazer batota não é tomada como resultado dos convenientes factores enumerados pelo Kelly: recuperar mais depressa uma lesão para evitar perder jogos ou combater os efeitos da idade no final da carreira. A decisão de fazer batota é tomada por ganância e vaidade. É engano, puro e simples, de alguém que é ciumento e hipócrita o suficiente para não aceitar o seu nível desportivo.

Se fazer batota se justifica tão facilmente até onde está um jornalista disposto a ir para alcançar os seus objectivos. É aceitável plagiar um Prémio Pulitzer? Mentir para fazer capas? Parafrasear erradamente alguém para retirar uma afirmação atrevida?

Obviamente a resposta é não. Não é aceitável. Não é aceitável porque somos íntegros, como atletas, escritores, profissionais e seres humanos. Sabemos a diferença entre o certo e o errado e tentamos agir de acordo com isso. Ou deveríamos fazê-lo.

Idiotas como o A-Rod ou o Lance Armstrong já fugiram o suficiente. Foram capa de revistas, ídolos e campeões para as massas. Tudo baseado em falsos pretextos. Ganharam milhões e continuam a ganhar milhões através de direitos e aparições públicas, até ao fim dos seus dias. Não nos esqueçamos do seu desrespeito pelas regras. Não vamos dizer que está tudo bem porque todos fazem o mesmo.

Vamos chamar os bois pelos nomes. Eles são batoteiros e não interessa o que ganham porque serão sempre perdedores.

Adam Van Koederden faz parte da equipa Nacional de Canoagem do Canadá há 15 anos. Venceu 2 títulos Mundiais e 4 medalhas Olímpicas, incluindo o ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas.

Temos Mulheres!! A opinião de Mário Santos

Jornal A BOLA, 07/11/2014 – sem link

Fantástico o desempenho da Sara Moreira na maratona de Nova York, na sua estreia nesta dura distância e em prova de dificuldade elevada. Um brilhante terceiro lugar com uma marca de referência, um ano apenas após ter sido mãe. Também recentemente,Telma Monteiro mostrou todo o seu valor no Grand Slam de Abu Dhabi, somando mais uma medalha de ouro ao seu rico pecúlio. Num só ano, subiu de 12.ª para segunda do ranking Mundial.

Estes resultados de referência não são de hoje: Rosa Mota e Fernanda Ribeiro pertencem ao restrito círculo de atletas que conseguiram conquistar medalhas em diferentes edições dos Jogos Olímpicos. A essas medalhas juntaram títulos Mundiais, nos quais foram acompanhadas por muitas outras atletas como a também medalhada olímpica Vanessa Fernandes, a “vice” de Pequim2008 que assumiu já o objetivo de regressar ao alto rendimento.

Num país em que a prática desportiva vive ainda visíveis distinções entre os géneros – e no qual se verificam diferenças de oportunidades em termos de disciplinas e locais de treino -, termos resultados de referência no setor feminino é digno de destaque.

Nos anos em que presidi a Federação Portuguesa de Canoagem, o investimento e oportunidade/aposta na competição feminina foi opção mais do que ganha. Uma parte significativa dos resultados desportivos de eleição na modalidade foram obtidos pelo setor feminino, que acumulou sucessivas medalhas em Campeonatos do Mundo e da Europa.

Nas duas últimas olimpíadas, as mulheres estiveram ainda mais representadas e com resultados de grande mérito. Esta capacidade tem-se tornado uma evidência: em Londres’2012 tivemos a maior percentagem de sempre de atletas femininas, com 43% da equipa, sendo que dos nove diplomas obtidos, quatro foram conquistados por mulheres.

Ridículo quem argumenta que “nas mulheres é mais fácil”. Para obter resultados de eleição no alto rendimento não basta querer: é MESMO preciso “ser” e “ter”. E as mulheres portuguesas estão na luta!

Mário SantosPresidente FPC 2004-2013 e chefe de missão JO Londres’2012

Reforma(dos) – Opinião de Mário Santos

Jornal A BOLA, 31/10/2014 – sem link

O discurso das reformas estruturais está em voga. Estas ditas reformas deviam ter subjacente uma estratégia e uns objetivos bem definidos. Contudo, torna-se cada vez mais claro estarmos perante uma mera estratégia de “cortina de fumo”, querendo estar em sintonia com o discurso da “moda” ou, na maioria das vezes, como forma de justificar a redução de meios.

Há uns dois anos, no debate de ideias/programas para as eleições do Comité Olímpico de Portugal (COP), um dos temas chave era a fusão – ou até dissolução – da Confederação do Desporto de Portugal (CDP) no COP (recorde-se que o próprio presidente da CDP era candidato… e depois abdicou para integrar uma outra lista, como vice-presidente). De muito importante, este tema passou ao… esquecimento. É típica a capacidade portuguesa de esquecer o debate do importante e privilegiar o urgente.

Continuam a sobrar entidades a “gerir” o desporto nacional: Secretaria de Estado do Desporto e Juventude, Conselho Nacional do Desporto, Instituto Português do Desporto e Juventude, Fundação do Desporto (FD), CDP, COP, Comité Paralímpico de Portugal (CPP)… Todos estes organismos com atividade corrente fortemente dependente do financiamento público.

No meio de tantas comissões, grupos de reflexão, congressos e grupos de trabalho, seria avisado que se encontrasse tempo para um estudo sério e aprofundado sobre a sustentabilidade, eficiência e necessidade de tantos organismos, que devoram grande fatia dos meios alocados ao desporto, apenas para sustentar a sua actividade regular..

Engavetar os projetos e os objetivos, tratar do urgente em detrimento do importante e gerir em constante programa eleitoralista participativo ajuda a envolvê-los a todos num processo de… não decisão.

Seria ótimo habituarmo-nos a avaliações (não disse “autoavaliações”) a fim de verificar se, de facto, reformamos ou se apenas cortamos e, assim, nos conformamos, aguardando, serenamente, pela nossa própria reforma.

Mário SantosPresidente FPC 2004-2013 e chefe de missão JO Londres’2012

“Esperanças Futebolímpicas” – A opinião de Mário Santos

Jornal A BOLA, 17/10/2014 – sem link

Após uma série memorável e inédita com o pleno de 10 vitórias, a seleção de futebol sub-21 garantiu o apuramento para a fase final do Campeonato da Europa, no qual os semi-finalistas se apuram para os Jogos Olímpicos (JO) do Rio 2016.

É reconhecida a nossa dificuldade em qualificarmo-nos nas modalidades coletivas para as fases finais de Europeus, Mundiais e JO. O futebol tem sido, por vezes, honrosa exceção.

Apesar da descontrolada invasão de estrangeiros nos nossos campeonatos, Portugal tem conquistado múltiplos lugares de destaque no quadro competitivo internacional.

Infelizmente, os jovens, como é exemplo os vice-campeões do Mundo sub-20 em 2011, dificilmente encontram espaço no futebol nacional.

O selecionador Rui Jorge já anunciou o objetivo da qualificação olímpica, meta realista de uma equipa constituída por muitos jogadores que já disputam a categoria sénior, alguns no estrangeiro.

A última vez que o futebol luso esteve representado nos JO foi em Atenas 2004, através de uma seleção com os agora consagrados Cristiano Ronaldo, Bruno Alves, Danny e Raul Meireles. Uma participação marcada por uma atitude displicente e o escândalo de não ter passado da primeira fase. Uma “equipa”, com ares de vedetismo de estrelas precoces, perdeu, por exemplo, com o Iraque e deixou uma imagem que em nada contribuiu para valorizar o desporto e a participação olímpica. Curiosamente, em Atlanta1996 a equipa das “quinas” chegou ao quarto lugar tendo como jogador o atual selecionador Rui Jorge.

Recordo ver Ryan Giggs na aldeia Olímpica de Londres com a jovem equipa Britânica, o entusiasmo da formação americana de basquetebol e o seu empenho ou a forma emocionada como Rafael Nadal comunicou a sua impossibilidade de participar nos Jogos devido a lesão.

Desejo a qualificação da nossa seleção. Que o futebol tenha aprendido com os erros. E que valorize TODA a Missão Portuguesa, que merece visibilidade (também mediática) como um todo.

Mário Santos, Presidente FPC 2004-2013, Chefe de Missão Jogos Olímpicos Londres’2012

Mentalidades – A opinião de Mário Santos

Jornal A BOLA, 10/10/2014 – sem link

A mentalidade de um povo é um dos principais fatores para explicar a sua realidade e o seu desenvolvimento. No desporto, tal também ocorre. Discute-se por estes dias o regresso à seleção de futebol de atletas que a haviam renunciado, em claro prejuízo da sua capacidade desportiva.

Infelizmente, este tipo de comportamento relativamente à seleção nacional não é virgem em Portugal: em 2013 a canoagem viveu casos semelhantes; em 2008 tivemos um ciclista que decidiu não representar Portugal nos Jogos Olímpicos; em 2012 uma velejadora decidiu abandonar os Jogos Olímpicos durante a competição, todos eles sem motivo plausível. nos Jogos olímpicos da Juventude 2010, uma tenista recusou representar Portugal alegando ser incompatível com o seu calendário competitivo pessoal. Falamos de atletas que usufruíram de apoios públicos na sua preparação para esses eventos.

O desempenho desportivo não é a única questão, pois também se quebrou o compromisso subjacente aos apoios concedidos aos atletas. O essencial é o exemplo que o atleta deve – ou devia – ser e aquilo que são as suas motivação.

Bem curiosa é a situação do multicampeão olímpico Michael Phelps: fora de estágio, conduziu a 130 km/h na autoestrada, com nível proibido de álcool, e foi, por isso, punido durante seis meses e excluído da equipa americana de natação que irá competir nos Mundiais de 2015. O maior desportista da história do olimpismo foi castigado pelo comportamento inadequado e violador do código de conduta. Sempre campeão, Phelps assume que errou. Não tentou caminhos sinuosos para resolver a questão a seu favor.

Imagine-se isto, por exemplo, em Portugal com uma grande referência desportiva. Além de altas esferas políticas pedirem o seu eleitoral perdão, acredito que até petições públicas brotariam em série a seu favor.
Cá, tudo se perdoa, tudo se esquece. Assobia-se para o lado. Depois, estranhamos como estamos assim, no desporto e no país que temos.

Mário Santos, Presidente FPC 2004-2013, Chefe de Missão Jogos Olímpicos Londres’2012