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Sexo vende Sexo! Não vende as “Mulheres no Desporto”

Mulheres com o corpo pintado na passadeira vermelha na Gala Women in Sports realizada em Sydney. Fotografia de Mick Tsikas/AAP

Artigo de Danielle Wardy – Original no The Guardian

Fiquei calada quando um cavalo foi nomeado “Desportista do Ano”. Fiquei calada quando alguém achou que era bom para o desporto, ter mulheres a correr em lingerie num jogo que a maioria dos australianos não percebe. Desta vez, não posso ficar calada. Desta vez, alguém que devia estar do nosso lado, fez algo muito estúpido. Sinto-me traída.

Há 4 anos atrás, a revista Women’s Health iniciou a atribuição dos prémios I Support Women in Sport – Eu Apoio as Mulheres no Desporto – para, nas palavras da editora, Felicity Harley, “dar às estrelas do nosso desporto, o reconhecimento que elas merecem.”

Aplaudi a iniciativa da Women’s Health. As atletas femininas precisam de uma campeã, em particular uma que fale para os 350.000 mil leitores/ano, o que é 250 vezes mais do que o público da W-League.

Este ano, algo correu muito mal. Na cerimónia dos prémios surgiram 4 modelos em topless, a pousar como atletas e a desfilar na passadeira vermelha com as cores do equipamento pintadas no corpo.

Quantas atletas batalham todos os dias para serem reconhecidas pelo seu talento e não pela aparência, porquê?… porquê que alguém pensou que era boa ideia ter mulheres nuas num evento para promover os incríveis resultados das atletas? Será que Cathy Freeman precisa mesmo de ver uma modelo seminua pintada com o seu icónico fato dos Jogos Olímpicos de 2000, a desfilar na passadeira vermelha?

Talvez alguém tenha cometido o mesmo equívoco cometido pelos profissionais do marketing desportivo, desde que inventaram o marketing desportivo: O Sexo Vende!

Deixem-me dizer-vos uma coisa. O sexo vende sexo. Sexo não vende o desporto feminino. Nunca vendeu e nunca vai vender. Vivemos num mundo em que as mulheres com capacidade desportiva, se quiserem ter “sucesso”, são convidadas a ser símbolos sexuais, primeiro e atletas em segundo. E se não te encaixas nesse estereótipo ou não estiveres disposta a jogar esse jogo? Boa sorte e adeus. É raro uma atleta conseguir superar esta ideia pré-concebida. Ironicamente a Cathy Freeman é uma dessas atletas.

As nossas crianças e mulheres estão a desistir do desporto a uma taxa sem precedentes. O nosso país tem neste momento uma das maiores taxas de obesidade do mundo. Estamos a dar um mau exemplo às nossas crianças ao não lhes mostrar mulheres fortes, atléticas, com vontade e habilidade de usar o seu corpo para algo mais do que “ficar bem” na passadeira vermelha.

Não me interpretem mal, eu gosto de me aperaltar tanto como qualquer outra pessoa mas nem todas as mulheres gostam. As nossas atletas são um grupo heterogéneo e interessante, com corpos diferentes, histórias e experiências diferentes desde a pura atleta, à licenciada, mulheres com carreiras e cientistas. Vale a pena contar estas histórias. As crianças não podem ser aquilo que não vêem e já é hora de mostrar, às nossas crianças, que existe um mundo para além daquele em que se é valorizado ou desvalorizado apenas pela aparência.

E o que podemos fazer? Eu tenho alguns conselhos para a Women’s Health. Usem a vossa voz para ser um verdadeiro agente de mudança. Há uma forte comunidade de fãs empenhadas no seu dia-a-dia e a trabalhar constantemente para promover as mulheres no desporto. E quando digo fãs, incluo jornalistas, produtores de conteúdo e fotógrafos que podem contactar para vos ajudar a contar essas histórias aos vossos leitores.

Consigo lembrar-me de, pelo menos, 5 sites sobre mulheres no desporto que são geridos apenas por paixão e por acreditar de estão a mudar o paradigma da imprensa desportiva, para melhor. Trabalhem com eles para contar as histórias que as nossas crianças precisam de ouvir.