Original The Globe and Mail, 07/11/2014
Não sou fá de Alex Rodriguez [banido do baseball por 211 jogos]. Não sigo o baseball. Não sou especialista em substâncias dopantes usadas [performance enhancing drug – PEDs]no desporto profissional ou amador.
O que me leva a desabafar é a coluna do The Globe and Mail de quinta-feira. Quando o colunista do Globe-Desporto tweetou: “O Alex Rodriguez usou drogas. Eu também usaria. E tu também.” Eu tweetei que não me revejo nessa categoria mas antes disso li o artigo. Esperava encontrar alguma sátira ou ironia ou que o Kelly admitisse que estava a ser faccioso.
Não encontrei nada disso. O que encontrei foi uma vã tentativa de justificar o uso de substâncias dopantes [PEDs] no desporto.
O Kelly afirma que gostaria de ouvir a opinião de pessoas que tenham sido confrontadas com a decisão de tomar PEDs no desporto.
Nunca pensei tomar drogas para melhorar a minha performance. Nem uma única vez. Suponho que seja uma escolha mas nem uma só vez ponderei essa hipótese, apesar de estar a treinar para os meus quartos Jogos Olímpicos, ter 32 anos de idade, e a aproximar-me do final da minha carreira de canoísta – como o Kelly descreveu a fase em que Rodriguez optou por escolher o lado negro.
O que mexeu logo comigo foi o Kelly assumir que os atletas, em primeiro lugar, são artistas. Nós somos pessoas e competidores e algumas pessoas acham que isso é um “espectáculo”. Não fazemos parte de uma coreografia ou de um pacote de diversão. É absurdo utilizar o argumento de que se justifica o uso de PEDs para incrementar o valor desse “espectáculo” e é o mesmo argumento perigoso de que os atletas “macaquinhos” devem ser usados para a satisfação dos espectadores e para subir audiências em horário nobre. Acho que isto se aplica ao desporto profissional e amador e é uma linha que se tem tornado cada vez mais ténue.
O Kelly faz uma grave suposição de que a maioria dos atletas profissionais já tomou PEDs. Esta suposição é feita com base na sua admissão de que, caso ele estivesse numa posição semelhante, utilizaria drogas para se manter no topo e continuar a colher os frutos de um contrato-milionário como profissional.
Ele compara a decisão de tomar PEDs com o dizer de uma mentira, tomar um atalho ou “um compromisso que fazemos para facilitar o caminho.”
Se alguém faz batota, só põe em causa uma coisa: a sua integridade. Clarificando, estamos a falar de desonestidade crónica quando se fala em batota. Usar drogas para aumentar a nossa performance não é uma mentirinha. É uma afronta aos pilares sobre os quais o desporto assenta.
Não estamos a falar de um código do Tetris para fazer as peças caírem mais devagar. Isto não é um programa de televisão. Isto é a vida de um atleta e sua razão de existir. É uma inspiração para as crianças e para os fãs desportivos de todo o mundo. Os batoteiros não roubam apenas o momento, a glória, as medalhas e o dinheiro, eles roubam os corações e a admiração de milhões de pessoas daqueles que mais o merecem.
A decisão de fazer batota não é tomada como resultado dos convenientes factores enumerados pelo Kelly: recuperar mais depressa uma lesão para evitar perder jogos ou combater os efeitos da idade no final da carreira. A decisão de fazer batota é tomada por ganância e vaidade. É engano, puro e simples, de alguém que é ciumento e hipócrita o suficiente para não aceitar o seu nível desportivo.
Se fazer batota se justifica tão facilmente até onde está um jornalista disposto a ir para alcançar os seus objectivos. É aceitável plagiar um Prémio Pulitzer? Mentir para fazer capas? Parafrasear erradamente alguém para retirar uma afirmação atrevida?
Obviamente a resposta é não. Não é aceitável. Não é aceitável porque somos íntegros, como atletas, escritores, profissionais e seres humanos. Sabemos a diferença entre o certo e o errado e tentamos agir de acordo com isso. Ou deveríamos fazê-lo.
Idiotas como o A-Rod ou o Lance Armstrong já fugiram o suficiente. Foram capa de revistas, ídolos e campeões para as massas. Tudo baseado em falsos pretextos. Ganharam milhões e continuam a ganhar milhões através de direitos e aparições públicas, até ao fim dos seus dias. Não nos esqueçamos do seu desrespeito pelas regras. Não vamos dizer que está tudo bem porque todos fazem o mesmo.
Vamos chamar os bois pelos nomes. Eles são batoteiros e não interessa o que ganham porque serão sempre perdedores.
Adam Van Koederden faz parte da equipa Nacional de Canoagem do Canadá há 15 anos. Venceu 2 títulos Mundiais e 4 medalhas Olímpicas, incluindo o ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas.