Foto Mundial 2013 na Alemanha – Christian Mathes à dta.
Original aqui, traduzido para inglês no sportscene.tv
Os atletas Christian e Dominik Mathes falam com Claus Wotruba sobre o grande objectivo: Os jogos Paralímpicos de 2016 no Rio. Christian Mathes venceu uma medalha de bronze na Taça do Mundo. O atleta de Regensburg quer competir em 2016 nos Paralímpicos no Brasil.
Ir para a água competir num barco não é fácil para alguém sem limitações. Para alguém em cadeira de rodas deve ser ainda mais extraordinário?
Christian Mathes [CM]: Na verdade foi tudo uma coincidência. Fomos a uns eventos onde pessoas em cadeira de rodas podiam experimentar uma série de actividades: escalada, natação, navegação, jogar mini golf. Em 2011, a Tine Wilholm e o Peter Dietl, deram a experimentar a canoagem a utilizadores de cadeira de rodas. Gostei muito e vi que até tinha bastante jeito.
O que fazias antes dessa experiência?
CM: Muita coisa. Jogávamos um pouco de basquete em cadeira de rodas e outros desportos ocasionais. Mas não praticava um desporto de competição, nem sequer um desporto certo de actividade regular.
De onde surgiu a ideia de começar um desporto de competição?
CM: Surgiu de repente e foi bastante divertido. O alto-rendimento não exclui o factor diversão. E isso também se deve à fantástica equipa, aqui em Regensburg.
O momento não podia ser melhor. A paracanoagem vai entrar pela primeira vez nos Jogos Paralímpicos nos Rio 2016. Nessa altura isso ainda não era previsível ou não estava nas tuas aspirações, pois não?
CM: Nem por isso. Não tínhamos quaisquer expectativas ou objectivos. O nosso lema era: ir levando as coisas dia a dia. Depois as coisas foram surgindo. Nunca pensei que no ano seguinte estaria a competir no campeonato do mundo e ainda para mais ganhar uma medalha de bronze.
Parece que o Christian tem mais hipóteses de ir ao Rio?
Dominik Mathes: Isso é verdade (risos). Não sou tão rápido como o Christian mas fico contente por ele e desejo-lhe muito sucesso. Às vezes chateia estar a pagaiar sempre atrás dele mas também me motiva tê-lo à minha frente. É mais difícil quando não tens alguém a puxar por ti.
Então deve ser muito difícil para o Christian porque na Alemanha ninguém anda à frente dele?
CM: De tempos a tempos vou treinar a Munique onde, por vezes, tenho pessoas mais rápidas do que eu. O Dominik começou numa categoria diferente mas já recuperou muito em relação a mim.
Muita gente não sabe o esforço que está por trás disto, mesmo nos desportos paralímpicos.
CM: Envolve muitas pessoas. E não conseguíamos praticar sem essas pessoas. Eu tenho a melhor equipa da Bavaria. Há muitos que não têm a logística que eu tenho, com 2 treinadores e um colega de treino. É por isso que eu, ana Alemanha, tenho estado sempre um pouco à frente dos adversários. Infelizmente a minha equipa não compete internacionalmente. E, claro, o treino intensivo é a base de tudo isto.
Que tipo de treinos fazes?
CM: Claro que o treino de água é o mais importante. Na fase competitiva treino no Danúbio às quintas e domingos e vou para Munique todas as quartas-feiras. Lá, o treinador da região faz uma avaliação e faz correcções. E recebo um plano de treino de acordo com essa avaliação. Isso incluí, por exemplo, o treino de ginásio e de bicicleta adaptada. Há muito mais para além de pagaiar apenas. Eu, especialmente, tenho de treinar muito a força e resistência.
Já algumas pensaste competir em bicicleta adaptada?
CM: Para mim, pagaiar é perfeito. A maior parte da força vem da cintura para cima. Não consigo usar as pernas, apenas o tronco. Foi uma coincidência a Tine estar naquele evento e não um atleta de bicicleta adaptada.
Na água esqueces que tens uma limitação?
CM: Absolutamente porque aí não preciso das pernas.
DM: Nem sempre. Preciso de usar as ancas e por vezes o barco faz alguns movimentos e eu não consigo contrariar com as pernas. É por isso que tenho de ter cuidado.
De onde surgiu a vossa limitação?
É hereditário. Temos a mesma deficiência: espasticidade [distúrbio motor] nas pernas
Ao crescer com essa deficiência, sentiam falta de algumas coisas?
CM: Não, não sentia. Andámos ambos num jardim-de-infância normal, escola primária e secundária. Se não o tivéssemos feito também fosse mais perceptível ou nos afectasse mais.
DM: A nossa mãe sempre quis que crescêssemos a viver uma vida o mais normal possível. Nunca me hei-de esquecer quando me disseram que não poderia andar de bicicleta sem usar rodas especiais. Mas eu queria tanto andar de bicicleta e hoje em dia ambos conseguimos fazê-lo sem problema. Outras coisas como não poder jogar à bola, simplesmente aceitamos e pronto.
Levas a mal que, por vezes, o Desporto Adaptado seja desprezado ou não haja conhecimento suficiente sobre ele?
CM: É importante que apareça nas notícias. Se for publicado apenas nas revistas para pessoas com deficiência, manter-se-á apenas nesse círculo. Ficamos contentes por as nossas provas serem em simultâneo com as outras.
A Paracanoagem teve um grande crescimento, especialmente depois de se saber que faria parte dos Paralímpicos.
CM: Nos últimos anos o melhor tempo nos 200 metros melhorou 4 segundos por ano. Isto mostra que há uma grande margem de melhoramento do material e dos assentos. Isso também pode ser melhorado internacionalmente. Neste momento em alguns países, como no Reino-Unido, está a investir-se muito dinheiro. Chegam às provas com 2 autocarros para os atletas e montam grandes tendas com ergómetros. Na nossa equipa cada um tem o seu barco e nada mais. É por isso que os britânicos ficam normalmente nos 3 primeiros. Também é uma questão do material certo. Na minha disciplina o assento é o mais importante enquanto que os barcos são quase todos iguais.
Que chances tens de chegar ao Rio? É suficiente ser campeão da Alemanha, 4º classificado nos Mundiais de 2014 e medalha de bronze nos Mundiais de 2013 para entrar para a equipa nacional?
CM: É imprescindível terminar nos 6 primeiros no Mundial do ano que vem. Para além disso tenho de ser o melhor da Alemanha. Por essa razão são feitas selectivas. Quem vencer as selectivas e terminar os Mundiais em boa posição, consegue um lugar nos Paralímpicos. Assim a decisão só será conhecida no final do próximo verão.
O Christian tem mais possibilidades mas será que vamos ter outro Mathes no Rio também?
DM: Claro que quero ir. Quero tentar melhorar na outrigger. É o meu objectivo para o início do próximo ano. Na minha categoria, um atleta de nível mundial, ainda é alguns segundos mais rápido do que eu.