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DESARTICULAÇÃO OLÍMPICA – Artigo de Opinião de Mário Santos

Mario Santos

Jornal A BOLA – 14/03/2014 – Sem link

O pomposo Plano Nacional do Desporto 2012-2024 garante prioridade a um projeto de identificação e desenvolvimento de jovens talentos. Assegura ainda que o Programa de Preparação Olímpica passa a constituir uma medida integrada, procurando ligar-se vertical e transversalmente ao Alto Rendimento e seleções nacionais. Teoria correta, não fossem os exemplos transmitirem uma mensagem antagónica a este objetivo. Como se explica que simultaneamente a estas articulações verticais e transversais – e num momento de cortes profundos, em todos os setores de atividade – se anuncie a entrega de Prémios de Mérito Desportivo a resultados obtidos em modalidades e disciplinas não olímpicas? Caminhamos para nova legislação, divergente das melhores práticas internacionais? É que estas não preveem prémios para resultados em disciplinas não olímpicas. E muitas não pagam sequer qualquer tipo de prémio, seja a disciplina olímpica ou não olímpica (Suécia, Noruega ou Reino Unido). A legislação em vigor prevê (Portaria n.º 211/98 de 3 de Abril) a atribuição de prémios de mérito desportivo a medalhados em disciplinas integradas no programa olímpico em Jogos Olímpicos, Campeonatos do Mundo e da Europa, no escalão absoluto. Segundo a mesma, poderão ser premiados por decisão política, resultados em campeonatos do Mundo ou da Europa disciplinas que não façam parte do programa olímpico. Bem como o pódio em Europeus/Mundiais jovens. Apesar da reconhecida importância da deteção de talentos e da articulação do alto rendimento com a preparação olímpica, a opção é premiar os resultados em disciplinas que não fazem parte do programa olímpico. E isto acontece em detrimento de resultados em disciplinas olímpicas na categoria de júnior, como o dos medalhados em Europeus/Mundiais João Geraldo (ténis de mesa), Nuno Saraiva (judo) e Diogo Lopes (canoagem). Num momento de cortes severos ao financiamento público das federações, a opção é alargar o pagamento de prémios “facultativos”!! O sinal, claro, é de total desarticulação. Em completo contraciclo com as melhores práticas internacionais. Acima de tudo, uma mensagem deturpada aos atletas: é melhor apostar na competição em provas de nível baixo (as olímpicas são sempre mais exigentes e participadas), em vez de uma preparação para a superação olímpica. Quo Vadis, política desportiva nacional?

Mário SantosPresidente FPC 2004-2013 e chefe de missão JO Londres’2012