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A Paracanoagem – Crónicas de Milão #canoagem #ICFparacanoe #Paracanoagem @Planetcanoe

Filipe Pereira, em Milão 19/08/2015 – foto de Planet Canoe

Um dia fantástico e com temperatura ideal para a canoagem. Este Campeonato do Mundo inicia-se envolto em polémicas e protestos, devido às fracas condições apresentadas pela organização local. No entanto à medida que se aproximam as competições vai-se esquecendo um pouco esses problemas para passar à acção.

Dia muito especial também pois marca a primeira Classificação da história da canoagem para os Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro 2016. Por parte de Portugal contamos com a presença de dois Atletas: Norberto Mourão e Paulo Santos. No entanto, por motivos de reorganização das Categorias para o evento Olímpico (menos categorias), alguma polémica foi surgindo pela colocação de Atletas com níveis perfeitamente distintos na mesma categoria. Ou seja, poderia calhar um atleta com 42-43 segundos nos 200m com outro de 50-52 segundos para a mesma distância. O que significa que veríamos algumas competições com diferenças enormes entre os Atletas.

Segundo me apercebi os nossos valentes Atletas fizeram resultados (tempo) dentro do esperado, ficando no entanto aquém das expectativas exactamente por terem sido colocados com atletas de capacidades bem mais elevadas. Fica no entanto o nosso BRAVO para estes dois grandes vencedores, que se classificam para as Finais B das suas categorias.

Quando nos deslocamos para fora do círculo nacional, verificamos que o Brasil está a tornar-se uma das grandes potências a nível mundial na paracanoagem. Alcançaram dois títulos mundiais e um Bronze, além de algumas classificações para finais a realizarem-se amanhã. Terminamos o dia com um o famoso nervoso miudinho pois amanhã inicia-se o evento tão esperado da Qualificação Olímpica.

Canoagem: hora H!

A BOLA 14/08/2015 – sem link – Foto Balint Vekassy (ICF)

Como o título diz, chegou o momento de todas as decisões na canoagem. A partir de quarta-feira, decorre em Milão o Campeonato do Mundo que apura para os Jogos Olímpicos do Rio2016. Portugal apresenta, nas provas do programa olímpico, uma equipa de 10 canoístas que competirão em sete eventos.

Comparando com a equipa que em 2011 tentou a qualificação para Londres2012, verificam-se poucas alterações. Em 2011 participamos em nove eventos olímpicos, com 11 atletas. Nos 1000 metros masculinos competiu no K1 (Fernando Pimenta), no K2 (Joao Ribeiro Emanuel Silva) e o K4 (Fernando Pimenta/João Ribeiro/Emanuel Silva/David Fernandes. Agora tudo se mantêm com exceção do K2 1000. Na altura, tal como agora, Fernando Pimenta foi o canoísta do K1 1.000. No sector feminino (K1 200 e 500, K2 e K4 500) a equipa é a mesma, com a integração da jovem Francisca Laia no K4 com Joana VasconcelosBeatriz Gomes e Helena Rodrigues face à saída de Teresa Portela que agora faz apenas K1 500 e 200.

Apesar de competir sensivelmente com os mesmo atletas, nas mesmas distâncias e com as mesmas tripulações, a realidade agora é outra. Em 2011, a canoagem portuguesa era uma ‘outsider’ no desporto nacional. Agora está sob os holofotes dos Media, sob o olhar atento dos seus adversários e, sobretudo, com um currículo desportivo mais consistente, enfrentando, por isso, este desafio num patamar de exigência diferente.

A canoagem tem um sistema de apuramento muito seletivo que só garante a qualificação olímpica direta com um lugar entre os seis primeiros. O treino está feito, mas os dias da competição são fundamentais: qualquer erro paga-se com preço bem elevado. Estamos habituados a que os nossos canoístas se superem. Os portugueses confiam que esse espírito nos vai levar até ao desejado Rio2016!

Mário SantosPresidente FPC 2004-2013 e chefe de missão JO Londres’2012

Um ano para os JO! Opinião de Mário Santos

A Bola 07/08/2015 – sem link
Um ano para os JO!

Daqui a um ano os desportistas de todo o Mundo já competem no maior evento multidesportivo planetário, desafiando outros da sua estirpe e lutando pela própria superação de limites. O resultado será o reflexo do trabalho de anos, alavancado em grande investimento pessoal e financeiro.

Para o Rio2016, Portugal tem 115 atletas de 18 modalidades enquadrados no Projeto de Preparação Olímpica. Dez atletas integram o nível 1 (medalha), 25 o nível 2 (finalista). Destes 10, seis (Fernando Pimenta, Emanuel SilvaJoao RibeiroDavid Fernandes, Teresa Portela, Hélder Silva) são da canoagem, dois do judo (Telma Amlet Monteiro e Jorge Fonseca), um do Taekwondo (Rui Bragança) e um do ciclismo (Rui Costa). Ou seja, atentas às condições, Portugal tem neste momento, teoricamente, sete/oito resultados que projetam possível medalha. Assim, considerando os referenciais de resultados previstos no PPO, será expectável uma ou duas medalhas no Rio2016. Ou seja, manter-se-ia aquele que é histórico de participação olímpica dos portugueses: 0 a 3.

Na hora de falar em medalhas todos se abstêm de o fazer. Tem-se relativizado a importância do resultado – confundindo-o, por vezes, com o fair-play – a um ponto que não posso esquecer a surpresa de um treinador de canoagem, perante um desses discursos: “Um dia destes acusam o vencedor de falta de fair-play por se ter esforçado para ganhar ao segundo”. No alto rendimento, mede-se, cronometra-se, distinguem-se os três primeiros dos outros. O objetivo é, sempre, o melhor resultado.

Esperemos que as previsões fiquem aquém do nosso sucesso no Rio2016. Que mais atletas atinjam a glória resultante de muitos anos de trabalho.

Mário SantosPresidente FPC 2004-2013 e chefe de missão JO Londres’2012

Heróis do Mar – Opinião de Mário Santos

Jornal A Bola 10/07/2015 – sem link Foto: MONTSERRAT T DIEZ / EPA

Encontra-se a decorrer na Marina do Douro, em Vila Nova de Gaia, o Campeonato da Europa de vela na classe 49. Uma janela para dar a conhecer as excelentes condições do nosso mar, do vento norte, das infraestruturas, dos hotéis e qualidade organizativa que têm conseguido colocar Portugal na rota de muitos eventos desportivos internacionais.

Uma vez que coincide com o meu local de treino de canoagem, pude assistir nas últimas semanas a uma verdadeira preparação profissional das equipas. Chegam com semanas de antecedência, acarretam uma enorme logística, com barcos e equipamentos, bem como técnicos. A vela é uma modalidade com grande densidade competitiva internacional. Aqueles que de forma fácil apelam às apostas nos desportos de mar têm uma excelente oportunidade para assistir, ‘in loco’, ao nível competitivo e perceber o investimento necessário para ombrear com os melhores nesta modalidade. Facilmente entenderão que um investimento sério na vela é incomparável a muitas outras modalidades.

Portugal está representado pelas equipas Jorge Lima/José Costa e os irmãos Gonçalo Pires e Rodolfo Pires . A primeira está nos lugares de pódio e já garantiu a vaga para Portugal nos Jogos Olímpicos do Rio2016. A segunda é constituída por dois jovens que já representaram Portugal nos Jogos Olímpicos da Juventude (JOJ), sendo o mais novo já medalhado neste evento.

A não desperdiçar esta excelente oportunidade para assistir a uma competição de grande nível internacional. Portugal já demonstrou que consegue estar na vanguarda organizativa e competitiva na vela. As organizações, as medalhas olímpicas e títulos mundiais demonstram-no. Mas nesta batalha não basta apenas o talento: é preciso investimento e estratégia, pois, quando não se sabe para onde se vai, os ventos nunca estão de feição.

Mário SantosPresidente FPC 2004-2013 e chefe de missão JO Londres’2012

Universíadas 2015 #Gwangju #Korea

Jornal A Bola, 03/07/2015 – sem link

Começam hoje, em Gwangju, na Coreia do Sul, as Universíadas 2015, um evento multidesportivo para estudantes à escala global, organizado com o objetivo de promover a cultura e a educação pelo desporto. Só atletas com frequência universitária – e com idades compreendidas entre os 17 e os 28 anos – podem competir.

Este evento atingiu um elevado grau de organização e competitividade, contando com a participação de atletas de referência internacional. Muitos dos resultados aqui obtidos são considerados para enquadramento em projetos de apoio ao alto rendimento e muitas modalidades têm este evento no seu processo de qualificação olímpica.

Portugal participa com 45 atletas de 10 modalidades: Andebol, Atletismo, Ginástica Artística, Esgrima, Judo, Natação, Remo, Taekwondo, Ténis de Mesa e Tiro com Arco.

Entre outros, Portugal vai defender o título Mundial Universitário de Andebol, além de apresentar atletas integrados no projeto olímpico como Mário Silva , Michel Fernandes, Júlio Ferreira e Rui Bragança do Taekwondo ou Gustavo Simões e Filipa Martins da ginástica, que podem nesta competição somar pontos para a qualificação olímpica.

Mais importante do que os resultados, esta é uma oportunidade para conhecer estes nossos atletas e o seu exemplo, promovendo com eles o desporto, em especial o Olimpismo, como uma filosofia de vida que exalta e combina de forma equilibrada as qualidades do corpo, da vontade e do espírito.

É dando a conhecer estes atletas de elite, com carreiras académicas de igual sucesso, e não simplesmente pela foto com a medalha, que se promove o valor educativo do bom exemplo e de um estilo de vida que contraria o preocupante sedentarismo dos mais jovens e cujos benefícios vão muito além de uma questão de saúde pública.

Mário SantosPresidente FPC 2004-2013 e chefe de missão JO Londres’2012

Revelações sobre a Federação Francesa de Canoagem

Maxime Beaumont, Etienne Hubert, Theo Lambert … todos eles têm uma coisa em comum, um homem que acreditava neles quando a Federação não o fez. Esse homem é Manu Voynnet, ex- treinador Nacional de França. Depois de vários anos ausente, ele decide falar novamente, após a demissão do Presidente da Comissão de Regatas em Linha, Olivier Bayle. “Eles escondem-se atrás de eleições, onde nos bastidores se compram as vozes dos líderes de certas regiões.” O Presidente faz escolhas livremente?

  • A Federação parisiense “Francesa” de canoagem diz-se democrática…
  • A realidade é bem diferente e a liberdade de expressão não existe.
  • O rei é na verdade é o DTN (Director Técnico Nacional), e o presidente é apenas o seu peão.
  • O Presidente na realidade, não decide nada. Ele valida constantemente as escolhas do DTN.
  • Os dados são carregados e tudo se decide antecipadamente em reuniões antes das reuniões e eleições.Eles escondem-se atrás de eleições, onde nos bastidores se compram as vozes dos líderes de certas regiões.
  • O DTN, o Conselho Federal e o BEX (Conselho Executivo) criaram a sua federação, a sua visão.
  • Eles simplesmente correram com o presidente da Comissão de Regatas em Linha (Olivier Bayle) porque ele não partilha, e com razão, essa visão estreita e limitada para o desenvolvimento da canoagem.
  • A substituição seria assegurada pelo vice-presidente da federação, Patrick Berard, que além de tudo, é membro do famoso BEX há 12 anos …
  • 12 anos durante o qual ele foi acusado por parte dos clubes, dirigentes e atletas por, infelizmente, nunca defender os seus interesses, quando ele estava no comando, supostamente ao mais alto nível!

Quando a federação não acredita nos seus atletas.

  • O K4 masculino está entre as nove melhores equipas europeias, mas não tem o direito de tentar disputar a qualificação para os Jogos Olímpicos no Rio tal como as Canoas Femininas no Campeonato Mundial.
  • A minha convicção sobre o desporto, leva-me a acreditar que uma prova não está ganha nem perdida, enquanto não se cruzar a linha de chegada.
  • A minha visão como treinador sempre se baseou na confiança nos atletas para se destacarem e vencerem!
  • O alto rendimento, em minha opinião, pode resumir-se desta forma: “Não limites os teus desafios, mas desafia os teus limites!”
  • O DTN e o BEX (incluindo o Sr. Berard) conseguem saber, desde o seu gabinete em Paris, que estes atletas não terão sucesso e preferem não os incluir, em vez de confiar neles para defender as nossas cores!Esta é a diferença mais óbvia entre eles e nós: a confiança!
  • Como podemos pedir um investimento nos nossos atletas, treinadores, clubes, quando 10 dirigentes decidem em Junho nem sequer inscrever as embarcações para estarem na linha de largada!
  • Não se preocupem com o DTN, o Presidente Hohler ou Sr. Berard, eles lá estarão como turistas a beber uns copos no Campeonato do Mundo, representando FFCK claro!!

Um treinador Inconveniente

  • Eu treinei diariamente e durante anos, vários campeões. Alguns ainda estão no activo e em bom plano (Max Beaumont, Etienne Hubert, William Tchamba).
  • Toda a federação não os queria e não apostava um centavo neles …
  • Chegaram a dizer que eles nunca seriam nada … e um ano depois estavam no top 5 na Europa. ..A Federação não soube reconhecer e explorar o seu potencial.
  • Eu fui expulso da equipa de França, em 2004, por me atrever a defender os atletas. Em 2004 eu tive duas medalhas no Campeonato da Europa e 8 atletas em finais… A federação acabou por me ir buscar de novo em 2005. No final da época de 2006, a federação obrigou todos os meus atletas a deixarem o meu comando sob pena de não poderem participar nos estágios de selecção para a equipa de França! Fiquei apenas com os Juniores sem experiência: em 2007 Theo Lambert e Tony Sauvage tornam-se vice-campeões Europeus de C2 e com o Maxime Delannoy fazem terceiro no Campeonato do Mundo de Juniores, mas a 15 dias da prova, eles demitiram-me pela segunda vez. .. Depois de eu sair, fui  repudiado.

Uma verdadeira federação é …

  • Para mim uma Federação deveria ser:
  • Um grupo de homens e mulheres que se reúnem em torno de um projecto de desenvolvimento comum.
  • Um projecto onde o Presidente preside e onde o DTN implementa as políticas do BEX e do Conselho Federal.Infelizmente, hoje em dia, estamos numa situação em que o empregador é direccionado pelos funcionários…
  • É surpreendente que quando falamos individualmente com os membros do Conselho Federal, os treinadores nacionais, não é incomum ouvir as suas dificuldades em expressar e lidar com o DTN.
  • Parece-me primordial ter um Presidente da Comissão de Regatas em Linha que represente os atletas, treinadores e clubes.Acho que o Olivier Bayle tem capacidade para nos fazer transcender e puxar os limites dos atletas de Regatas em Linha.
  • Peço que ele seja reposto no seu cargo imediatamente e que os nossos atletas possam defender as nossas cores com orgulho, honra e confiança nos campeonatos do mundo para nos trazer a cota máxima para as Olimpíadas no Rio!

Por: Manu Voynnet / Pierre Poizat AQUI

Especificidades – A opinião de Mário Santos

Jornal A Bola,  26/06/2015 – sem link

Portugal garantiu quinta-feira mais uma medalha nos I Jogos Europeus, que se disputam em Baku, no Azerbaijão. E já lá vão nove! Telma Monteiro regressa à competição com a qualidade que tem marcado a sua careira desportiva e, mais uma vez, confirmou o seu valor com uma medalha de ouro. A quinta em Europeus!
Analisando as modalidades em que Portugal está, neste momento, a competir – natação, futebol de praia e judo – podemos verificar as especificidades destes Jogos. Singularidades que devem merecer a atenção dos que analisam os resultados desportivos.
Estamos perante três modalidades olímpicas (natação, futebol e judo), no entanto alguns dos eventos não integram o programa olímpico, como o futebol de praia ou algumas provas da natação. Os eventos disputados na natação contam apenas com a presença de atletas da categoria júnior, constituindo este evento o seu Campeonato da Europa.
A competição de Judo, por sua vez, é simultaneamente o Campeonato da Europa absoluto. Não é alheia a todas estas especificidades a luta titânica pelos fluxos financeiros emergentes dos grandes eventos e a cada vez mais evidente luta entre as organizações sobre a égide dos Comités Olímpicos e as organizações sob a égide das federações desportivas.
Entre eventos olímpicos e não olímpicos, juniores ou absolutos, sob a égide dos comités olímpicos ou federações desportivas, vivemos um momento positivo dos nossos resultados desportivos internacionais em várias modalidades. Poderão estes resultados levantar um desafio na gestão de expectativas, mas são decididamente um forte tónico para a motivação dos nossos atletas e para uma nação que precisa, toda ela, da mesma capacidade de superação!

Mário SantosPresidente FPC 2004-2013 e chefe de missão JO Londres’2012

Desporto democrático? – Opinião de Mário Santos

Jornal A Bola, 12 de Junho – sem link – foto Richard Heathcote – @Getty Images

Começam hoje em Baku, no Azerbeijão, os I Jogos Europeus, organizados pelos Comités Olímpicos Europeus (COE). Englobam 20 modalidades, 50 países e 6.000 atletas. Portugal apresenta-se com 100 atletas em 14 modalidades.
Estes Jogos iniciam-se sob forte pressão sobre a organização, nomeadamente a Associação dos Comités Olímpicos Europeus. A vice-presidente do Parlamento Europeu e as presidentes da Comissão do Desporto e Direitos Humanos pediram terça-feira que os líderes dos 28 países membros da União Europeia boicotassem a cerimónia de abertura, lamentando que se realizem “num país que não respeita os direitos humanos”. Quarta-feira, o Comité Olímpico Holandês anunciou que desistia da candidatura à organização dos próximos Jogos Europeus, em 2019, após o Governo central e local ter anunciado não estar disponível para reforçar o orçamento com mais 57 milhões de euros a acrescer aos 125 milhões já previstos.
Um alerta para dirigentes, atletas, treinadores, oficiais e todos aquelas que de forma direta ou indireta estão ligados ao desporto, refletirem sobre como(?), por quem (?) e a que custo económico e social (?) são pagos os luxuosos hotéis, aldeias olímpicas que mais se assemelham a resorts, os carros de luxo com motorista, infraestruturas desportivas faraónicas, as fabulosas cerimónias, lautos repastos e constantes salamaleques.
Este evento devia ter como objetivo celebrar o desporto ao serviço do desenvolvimento humano e não para alimentar o espírito do orgulho nacional azeri ou legitimar um sistema alavancado em muito petróleo e pouca ou nenhuma democracia. Neste campo joga-se muito mais do que apenas uma competição desportiva e as organizações de topo omitem, sucessivamente, esta evidência. Até quando? A que preço?

Mário SantosPresidente FPC 2004-2013 e chefe de missão JO Londres’2012

Agraciados – A opinião de Mário Santos

Jornal A Bola, 29/05/2015 – sem link – Foto FPC

Decorreu esta semana, por iniciativa do Presidente da República, um evento denominado Homenagem ao Desporto Português. Na referida cerimónia foram distinguidos 16 atletas.

Podemos questionar a oportunidade desta cerimónia, pois no último 10 de Junho, momento em que é habitual o Presidente da República proceder à atribuição e entrega dos títulos honoríficos, ninguém da área do desporto mereceu distinção. E não podemos esquecer a celeuma gerada recentemente com a entrega de títulos honoríficos em cerimónia específica para apenas atletas, treinador e dirigente de uma única modalidade. Todos esperam coerência, bom senso e justiça por parte das altas entidades do Estado.

Na verdade, e neste evento, com um critério transparente, medalhados olímpicos/paralímpicos e um campeão do Mundo de uma disciplina olímpica e outro de Paralímpica, o Presidente da República agraciou atletas que se destacaram em grandes competições internacionais, especialmente nos ditos Jogos, e que até hoje não haviam sido agraciados.

Surpreendente e revelador o facto de termos atletas medalhados em 1952 e que durante todos estes anos, e após centenas de títulos honoríficos entregues, nenhum presidente da República teve a oportunidade de os homenagear.

Um país que paga prémios de mérito desportivo, fazendo cerimónias para entregar cheques, já podia ter criado esta oportunidade. Sinal do real valor e peso que ao desporto (não) é dado. Fica esta cerimónia marcada, acima de tudo, como um ato de justiça e reconhecimento para com estes atletas que atingiram a excelência, “mais vale tarde do que nunca”.

Esperemos que não seja apenas um fogacho circunstancial. E que nas futuras cerimónias de atribuição de títulos honoríficos o desporto esteja presente com as demais áreas, nas cerimónias do 10 de Junho.

Mário SantosPresidente FPC 2004-2013 e chefe de missão JO Londres’2012

Da luz às trevas – Opinião de Mário Santos

Jornal A Bola, 22/05/2015 – sem link – Foto Balint Vekassy @PlanetCanoe

Fica o fim de semana passado marcado pela positiva com a excelente prestação desportiva nacional com resultados dignos de destaque: a equipa nacional de canoagem conquistou 8 medalhas, na Taça do Mundo que decorreu em Montemor-o-Velho difundida por dezenas países; o jovem Mário Silva medalhado Olímpico (prata nos Jogos Olímpicos da Juventude 2010), com um 5.º lugar no Campeonato do Mundo de Taekwondo; o consagrado olímpico João Costa, na modalidade de tiro que garantiu a qualificação Rio 2016 e a sua quinta participação olímpica, entre outros. Ficou também marcado pela decisão do vencedor da Primeira Liga de Futebol.

Seria expectável uma grande mediatização do desfecho da I Liga de futebol. Uma canibalização dos meios de comunicação era previsível, no entanto, atenta a qualidade e importância dos resultados obtidos nas demais modalidades no âmbito da competição internacional esperávamos um momento de visibilidade.

Infelizmente, o espaço mediático do desporto foi absolutamente dominado por um conjunto lamentável de cenas de violência associadas ao futebol. Não cabe aqui fazer julgamentos, nem reflexões sobre a origem sociológica destes fenómenos.

Contudo não deverá deixar de ser motivo de reflexão para atletas, treinadores, dirigentes ou adeptos e comentadores (alguns com responsabilidades acrescidas) que a coberto da sua paixão por uma modalidade, por um clube, ou por um País têm discursos inflamados, desprovidos de racionalidade, de respeito pelos adversários e subliminarmente induzem á violência.
O desporto é para ser celebrado no estádio e não na arena. Uma actividade estética, de superação, de celebração, de paz e não uma simulação de guerra com armas e violência, na qual os atletas se transformam em gladiadores e os espectadores em hordas bárbaras.

Mário SantosPresidente FPC 2004-2013 e chefe de missão JO Londres’2012