Katalin Kovács: “ninguém, com uma arma apontada, me obriga a pagaiar” #canoagem “ICFsprint

Original Sport Geza. Traduzido para inglês Sportscene

A atleta de maior sucesso da Hungria deu à luz há 9 meses. Está a treinar em Abu Dhabi, acumulando quilómetros. Encontra-se a preparar o Campeonato do Mundo e a pensar nos Jogos do Rio.

“Apenas 3 dias após ter saído do hospital, perguntaram-me se queria fazer K2 com a Natasha. Só consegui dizer ‘não ponham a carroça à frente dos bois’. Não estou a ser demasiado cuidadosa mas a criação e a vida têm o seu ritmo. Neste desporto nada é natural e óbvio. Nada é oferecido e as cartas não estão lançadas antes de começar a época. Quando comecei a competir em individual lutei por isso todos os dias! Não era óbvio nem garantido que teria o meu lugar no K1 e a Kinga Bota e Szilvia Szabó ficavam com o K2… Cada treino era uma batalha, era extremamente competitivo.. Como deve ser.”

Ambas querem o K2 mas Kovacs ainda não vislumbrou a reorganização que ambas terão de dar às suas vidas para que seja possível. Neste momento, Janics está no México e Kovacs em Abu Dhabi e só se vão juntar no K2 em Abril.

“Sinto-me honrada por algumas pessoas pensarem que já estamos qualificadas para o Campeonato do Mundo. Temos de lutar por isso e estou a fazer todos os possíveis para o alcançar. Estou a pagaiar 30 km por dia ou a correr e levantar pesos.”

Katalin Kovacs I

Faz sempre aquilo em que acreditas e acredita naquilo que fazes 

Kovacs explica a sua filosofia antes dos Jogos Olímpicos de Londres 2012. Na altura ganhou nova medalha de ouro no K4 e, para além de outros 3 ouros, também tem 5 medalhas de prata em Jogos Olímpicos. Vive a vida de acordo com o seu lema. Na Hungria não há nenhum atleta no activo que tenha tido mais sucesso do que Kovacs. Tem uma carreira desportiva admirável com 31 títulos de Campeã do Mundo. Detém o recorde de toda a história do desporto da Hungria e continua a definir mais objectivos futuros. Apesar de estar ausente no último ano, não gosta da palavra “regresso” e explica porquê muito sucintamente…

“Para mim o termo ‘regresso’ significa que te retiraste. Eu nunca me retirei, nem sequer equacionei essa hipótese. Porque creio que com a ‘retirada’ haverá uma carga negativa. Botond Storcz ou Zsolt Gyulay regressaram porque se desviaram da modalidade mas depois mudaram de ideias. Não estaria a ser sincera se afirmasse que não tive Jogos Olímpicos em que não quisesse retirar-me no final mas de momento estou a adorar pagaiar.

Tive a melhor experiência da minha vida, fui abençoada com a gravidez e no Verão dei à luz uma adorável menina… E depois senti vontade de continuar a treinar. Por isso fiz uma pausa e agora estou de volta aos estágios”.

Mais forte a cada dia que passa

“Este estágio é diferente do último. Quando estivemos cá no Outono não foi só maravilhas. Depois do parto sentia-me muito cansada, os músculos não respondiam da mesma forma, todo o corpo reagia de forma diferente ao que eu estava habituada. Agora sinto que estou a recuperar a força, a forma e a técnica. É um pouco estranho estar a dizer isto ao fim de tantos anos, mas agora tenho a oportunidade de aperfeiçoar os detalhes até à perfeição. Sinto-me mais forte a cada dia que passa e era esse o plano inicial. Estava ansiosa para fazer um contra-relógio contra a Tamara Csipes. Sinto que tenho um espírito competitivo imbatível, no entanto, não tive um contra-relógio tão bom como estava à espera e isso mostra que há ainda muito trabalho para fazer.”

Katalin Kovacs, de 39 anos, sente-se todos os dias motivada e procura constantemente novos desafios. Há apenas uma boa resposta para esta pergunta e é que ela está muito apaixonada pela CANOAGEM, com letra grande. Fala apaixonadamente sobre isso e é sempre acompanhado por um grande sorriso na cara.

É frequente perguntarem-lhe sobre os sacrifícios necessários para esta paixão e sucesso.

“Sim, é verdade, mas ninguém está com uma arma apontada a mim a dizer que a canoagem é uma obrigação. Simplesmente: adoro isto. Mesmo nos dias em que detestei um treino intensivo, do princípio ao fim, tento fazer a soma disso ao resto para ter uma imagem positiva. Tenho a certeza que há pessoas em diferentes áreas da vida que adoram os seus trabalhos e procuram novos objectivos depois de um projecto de sucesso. Passa-se o mesmo connosco, nesse aspecto não somos muito diferentes. Treinamos porque é o nosso trabalho. Sabes, podem dizer ‘o que estás aqui a fazer com essa idade’ mas a canoagem é a minha vida!

Viu recentemente num jornal que os Campeonatos do Mundo se realizam em Milão logo a seguir ao dia Nacional da Hungria, no final de Agosto. Não está a fazer planos a longo prazo e ainda tem de participar em dois estágios, um em Szeged e outro em Szolnok.

Katalin Kovacs III

Mais um lema sobre motivação…

Kovacs está tão motivada como há 15-20 anos atrás. A sua mão disse-lhe uma vez, quando estava quase a terminar o liceu: o que for que venhas a fazer na tua vida, só vale a pena se te aplicares a 100%… E ela não faz por menos.

Se alguma vez tivesse desistido de algum treino durante a fase mais intensiva, ela só podia pensar que: se não vencer daqui a uns meses só me posso culpar a mim própria por não me ter aplicado totalmente nos treinos…

Exemplo prático: “Se no ginásio tivéssemos de cumprir 300 repetições e nas últimas 50 eu não conseguisse sequer levantar o peso, lembrava-me disso. Nem que o mundo viesse a baixo eu iria cumprir as repetições!”

Esse controlo e força que tem levaram-na a um ponto em que não existe sequer a hipótese de deixar de cumprir qualquer treino!

A pequenina…

Após o nascimento da Luca teve de se adaptar a uma nova rotina e mentalidade. Quando tinha um dia em que não conseguia cumprir a agenda, quase que enlouquecia. Nessas alturas o seu companheiro Adam dizia-lhe para não ser muito exigente consigo. Até achava suspeito o facto de o seu treinador (Ferenc Csipes) abdicar do final de um treino por já terem treinado com intensidade suficiente.

“Se calhar ele pensa que eu não consigo? Faz-me sentir limitada… Eu posso esforçar-me muito no treino mas ele não pode sentir pena de mim porque para a vitória podemos precisar daqueles 2000 metros e eu quero ganhar. O meu objectivo é melhorar a cada dia.”

Quando alguém lhe diz que se iniciou na canoagem, por causa dela, emociona-se e ela é um verdadeiro exemplo. Na verdade, neste momento esse número já deve ser bastante grande, desde que se estreou nos Jogos Olímpicos de 2000.

“É difícil encontrar as palavras quando isso acontece… Há dores que chegam até aos ossos, isso é exactamente o contrário. É absolutamente fantástico, maravilhoso e de uma euforia indescritível na alma.”

Quando disse que senti pena dela depois dos Jogos de 2008 ela respondeu-me com um sorriso. Foi multada pelo seu clube, o MTK, por ter preferido e apoiado Janics em vez de uma colega de equipa.

O tempo cura tudo. Já não penso nisso de forma negativa. Na altura foi uma experiência terrível mas há coisas muito mais importantes na vida. Tudo muda. Pensava que nunca mais voltaria a falar com a Kati Neni depois da separação e no entanto, uma manhã, voltamos a conversar.”

Estes Campeonatos do Mundo podem ser os primeiros em que a tua filha pode ver-te competir.

“Não gosto de pessimistas e que tenham pena de mim. Pensemos numa pessoa normal. Estou certa que também acontece às outras pessoas ter de deixar a suas famílias durante semanas para fazer o seu trabalho.

Sinto falta deles. Adoro estar no Skype com eles e não vejo a hora de abraçar a minha filha e contar-lhe histórias. Por outro lado tenho a minha vida na canoagem da qual não quero abdicar porque se o fizer sinto-me perdida. Só porque alguém estabelece objectivos altos não quer dizer que seja uma má mãe. Poder abraçá-la depois de alcançar o meu objectivo vai encher o meu coração com a maior das felicidades. Desejo essa experiência, quero sentir isso!”

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