PANACEIA OU DESCULPA PARA TUDO?

Mario Santos

Jornal A BOLA – 21/03/2014 – Sem link

O Desporto Escolar começa a surgir, de forma demasiado recorrente, como a panaceia que vai alinhar todos os desequilíbrios do nosso sistema desportivo. Desde o significativo aumento da prática desportiva aos consistentes resultados no alto rendimento. 

Esta solução “milagrosa” – estranhamente repetida, até à exaustão, por alguns responsáveis desportivos – está longe de resolver seja o que for. A começar, porque se aplica apenas a uma faixa etária circunscrita a um segmento do desenvolvimento motor direcionado para a competição em determinada modalidade, excluindo da equação os clubes desportivos que foram durante décadas financiados e equipados para essa função. 

Mais preocupante é o inexplicável desinteresse/desinvestimento dos responsáveis políticos na Educação Física nas escolas: o desporto não é verdadeiramente importante, nem os saudáveis hábitos de vida ativa e de sadia competição. Além de insuficiente, a carga horária é habitualmente mal distribuída, desfavorecendo a disponibilidade/vontade dos alunos. 

As alterações aos sistemas de avaliação da Educação Física são oportunidade única para uma verdadeira educação para o desporto, com práticas adequadas aos alunos e aos seus diversos momentos de evolução. Aproveitemos o que de bom fazemos. 

Entendo que o país não está em condições de esquecer, desvalorizar, menosprezar a forte aposta do passado nos clubes (muito dele, pelas autarquias), em valiosos recursos humanos e em dispendiosos equipamentos desportivos. Devemos privilegiar um sistema que potencie a figura do formador que exerce funções na escola, clubes e associações

Acredito que esta união de recursos e sinergias entre todos promove uma maior eficiência de ação, com enfoque nas relações de proximidade e as redes de clubes. 

O investimento no Desporto Escolar (idealmente útil e desejável, mas que exige recursos que não existem) está longe de ser a panaceia para os nossos desequilíbrios. Só entendo esta narrativa como “cortina de fumo” para justificar incompetência e incapacidade de operar verdadeiras mudanças, lançando mão de soluções metafísicas para nada fazer. 

Seja ao nível de prática desportiva ou dos resultados no alto rendimento, que cada dirigente assuma as suas responsabilidades, sem distrair ou assobiar para o ar.

 Mário SantosPresidente FPC 2004-2013 e chefe de missão JO Londres’2012

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