(In)Útil Histórico – a opinião de Mários Santos

Jornal A Bola, 16/01/2015 – sem link (foto NIC BOTHMA/LUSA GBR DORNEY EPA © 2012)

O termo “histórico” é um fator de ponderação determinante bem conhecido por quem acompanha o financiamento público às federações desportivas. Mas, infelizmente, o histórico não é a atividade desenvolvida, os resultados desportivos alcançados, o número de praticantes, as participações internacionais, os eventos desportivos organizados, os quadros competitivos, a formação ou a implantação nacional. O pomposo e sempre (in)útil conceito de histórico reduz-se ao valor financiado no ano anterior que, por sua vez, foi determinado pelo histórico do ano anterior e assim sucessivamente. Ou seja, o “histórico” dá um pretexto a quem, no poder, não tem coragem de avaliar, analisar e tomar decisões.
No desporto é fácil compreender os resultados: ganha o mais rápido, quem salta mais alto ou longe, a equipa que marca mais golos. E por aí fora. Ainda assim, analisar números e resultados em Portugal é coisa que a poucos agrada. Nem sempre dá jeito. Principalmente quando o dito histórico vale mais no financiamento do que a exibida competência.

Curioso é que no final de 2014 se tenham repetido aditamentos a contratos de financiamento público das federações desportivas: valores inicialmente contratados para investir no Alto Rendimento a seleções nacionais, acabaram transferidos para o desenvolvimento da prática desportiva.

Os apelos ao aumento do financiamento para a preparação de atletas proliferam na proporção direta das posteriores desculpas para justificar a ausência de resultados de valor. Depois, surgem os repetidos aditamentos…

Estas alterações – com a incompreensível cumplicidade do Estado – são justificadas na necessidade de cumprimento do plano de atividades das federações.

Um dia em que tenhamos acesso transparente e perceptível ao financiamento público, e quando implementada uma efetiva e séria avaliação da sua execução, teremos a verdadeira noção do “histórico”. E começar a perceber muitas histórias…

Mário SantosPresidente FPC 2004-2013 e chefe de missão JO Londres’2012