“Muito milhão exige gestão” – Artigo de Opinião de Mário Santos

Mario Santos

Jornal A BOLA – 4/4/2014 – Sem link

Em sentido inverso aos múltiplos êxitos desportivos e organizativos internacionais da canoagem portuguesa, o Centro de Alto Rendimento (CAR) de Montemor-o-Velho revela problemas que podem fazer perigar tudo o que tem sido conquistado. A dias das provas de seleção da equipa Olímpica, meses após terem competido nos Europeus de Portugal os melhores canoístas do Mundo, a um ano de organizar o Campeonato do Mundo júnior e sub-23 e após a conquista da organização dos “olímpicos” Mundiais absolutos de velocidade em 2018, é assustadora a inexistência de manutenção no CAR. Um dos canais foi invadido por plantas que o tornam inavegável, a balizagem está degradada por não ter sido retirada, a torre de chegada revela insuficiências estruturais, os balneários estão sem água quente há largos meses… Portugal tem 13 CAR, resultado de um avultado investimento total próximo dos 100 milhões de Euros. As autarquias são quem tem assumido, quase na sua totalidade, os custos de manutenção e financiamento. A 9 de outubro de 2012, a tutela prometeu, pomposamente, que até ao final de 2012 entraria em vigor um modelo de gestão dos CAR, a ser partilhado pela Fundação do Desporto, federações e autarquias. Estamos em 2014 e… nada. Parece-me que um modelo de financiamento individualizado norteado pela especificidade, competitividade, resultados operacionais e desportivos atingidos seria o caminho mais adequado e que o modelo proposto será de difícil implementação. Disse-o na altura e justifiquei-o a quem de direito. A Canoagem já provou ser possível a sustentabilidade: organiza elevado número de provas do calendário internacional, tem muitos eventos desportivos nacionais e estágios das suas seleções. Agora que fizemos o mais difícil – construir as infraestruturas – é crime público deixá-las ao abandono. O país não pode dar-se ao luxo destas (in)capacidades dos decisores, nem pode perder oportunidades de potenciar investimentos, tanto na vertente desportiva como na económica.

Mário SantosPresidente FPC 2004-2013 e chefe de missão JO Londres’2012

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